MAR & DEFESA | 21 DE FEVEREIRO DE 2024
DA EDITORIA
Iniciando uma série de entrevistas com administradores e jornalistas de mídias de Defesa no Brasil - revistas, canais e blogs -, trazemos aos leitores do MAR & DEFESA uma entrevista com Felipe Salles, Administrador do Canal Base Militar Vídeo Magazine - https://www.youtube.com/c/basemilitarvideomagazine.
O entrevistado é formado em Administração de Empresas, com vasta experiência no mercado de alta tecnologia. Possui mestrado em Estudos Marítimos pela Escola de Guerra Naval, e é fascinado por Geopolítica, uma ciência que, segundo ele, é "grotescamente negligenciada no Brasil".
Entendemos ser útil compartilhar com interessados e especialistas em Defesa a visão desses profissionais com respeito à evolução e à situação atual da Defesa Nacional, fruto de anos de experiência na atividade.
Dentre esses profissionais encontram-se militares e civis, formados em Jornalismo ou em outras áreas do conhecimento, o que enriquece sobremaneira o repertório de informações a serem disponibilizadas, ainda mais considerando-se o fato da ênfase diversificada entre os poderes terrestre, naval e aéreo. Além disso, observa-se a preferência de cada um deles por assuntos operacionais, estratégicos, geopolíticos ou logísticos.
Se você é um desses profissionais, e deseja participar de uma entrevista conosco, basta entrar em contato por e-mail ou Whatsapp.
Boa leitura!
Francisco Novellino
Editor
Como e quando ocorreu o início da sua participação na atividade? Que fatores o motivaram?
Eu tinha recentemente saído de um emprego na área de Telecom em Brasília, e estava de volta ao Rio a fim de me reposicionar na carreira. Nesse mesmo momento, por participar regularmente de chats online sobre temas de defesa, três amigos me instigaram a junto com eles abrir um site que trouxesse conteúdo desses temas, com um grau maior de profundidade e abrangência que provavelmente seriam impossíveis numa revista impressa. Relutante, no início, acabei aceitando e, desde então, já se passaram 20 anos! Entre 2014 e 2016 eu fiz um mestrado na EGN, o que me deu todo um lastro adicional para compreender estes temas, vindo, depois disso, a inaugurar o canal de YouTube como a nova encarnação do nosso projeto.
Quais foram as maiores dificuldades à época? Quais são as atuais?
Na época, o difícil era ter que explicar o que era um site de notícias de internet, já que o único canal conhecido à época eram as tradicionais revistas impressas. As Forças Armadas não estavam equipadas para atender solicitações da imprensa especializada, especialmente porque a imprensa generalista quase nada procurava as unidades militares no dia a dia. Hoje em dia, as três forças criaram grandes estruturas na área de comunicação social, que produzem muito conteúdo para múltiplas mídias, mas, ainda assim, prevalece a decisão do comandante da unidade se haverá ou não interação com a imprensa especializada. Nos casos em que a organização acredita não precisar da imprensa para realizar sua missão, ela acaba por alienar suas atividades do público, com resultados finais muito ruins.
Quantos seguidores tem o seu canal?
Atualmente já temos quase 17.000 inscritos, sempre lembrando que praticamente metade no nosso tráfego é composto de pessoas ainda não inscritas. Mas este número é certamente fruto também da “densidade” do nosso conteúdo, da nossa forma de abordar, que infelizmente é muito “difícil” para a média do usuário de um país como o nosso. Tomamos a decisão, desde o princípio, de que não abaixaríamos o nível do canal para atrair mais inscritos. Foi uma decisão difícil, mas pra esse público - menos exigente - já existem muitos canais superficiais e movidos a manchetes “clickbait” na Internet Brasil.
Na sua avaliação, quais são as contribuições do seu canal e de outras mídias à Defesa Nacional?
Nosso canal adota uma visão “técnica” na sua cobertura; não temos torcida, não vendemos o maniqueísmo do “bem contra o mal”, infelizmente tão dominante na nossa cobertura jornalística da política atual. Nas discussões com o nosso público fomos obrigados a adotar uma regra de absoluta falta de alinhamento político, uma vez que no momento atual, tão politicamente radicalizado, qualquer tolerância com discursos político/ideológico bastaria para implodir a comunidade que existe ao redor do nosso canal. Nossa cobertura internacional busca entender a evolução do grande cenário geopolítico, e de que forma ele ajuda ou atrapalha os objetivos maiores do Brasil. Indo além, buscamos nas soluções materiais e organizacionais adotadas por outros países ideias e sugestões que possam ser aplicadas no nosso próprio contexto local e regional. Queremos, sempre que possível, identificar problemas e oportunidades de melhora, e buscar no mundo ao nosso redor possíveis caminhos para sairmos deles.
Quais são as principais diferenças da atividade no Brasil e no exterior, especialmente no que concerne à interação das Forças Armadas com as mídias de defesa?
Isso é fácil. O ciclo militar iniciado em 1964 cimentou uma cisão de grandes proporções entre nosso mundo político civil e o militar. Por um lado, a geração de políticos que surgiu na retomada democrática não apenas temia o potencial “disruptivo” dos militares, como jamais desenvolveu qualquer tipo de visão geopolítica própria. Por sua vez, a liderança das Forças Armadas se satisfez com o relativo isolamento e independência que a apatia política lhes garantiu por algumas décadas. Para agravar tudo, o último governo, infelizmente, ao invés de dar prestigio às Forças Armadas, trazendo-as mais para perto do mundo político, apenas conseguiu hiperpolitiza-las, arrastando o mundo militar ainda mais para longe.
Sem a desejada aproximação (sempre, necessariamente) não ideológica, ficou ainda mais difícil finalmente escrevermos a quatro mãos uma "Grand Strategy". Essa visão de futuro no mais alto grau é necessária para que o Brasil, enquanto Estado, e não como Governo, ao menos saiba para onde está se encaminhado, e assim responder às muitas ameaças que certamente se interporão a nós.
Que sugestão você daria aos decisores políticos e militares?
Que não fujam do diálogo mútuo, que proponham uma verdadeira reforma militar que desenfatize unicamente o gasto com pessoal, e que busquem estruturar um arcabouço legal que possa estabelecer Forças Armadas com maiores mobilidade e letalidade, estando prontas para atuar não apenas em nosso território ou periferia regional, mas para além da Amazônia Azul, América do Sul e do Atlântico Sul.
Esse processo de modernização e atualização da área militar existe em variados graus nos demais países e, para implementa-lo, precisamos olhar para o que eles estão fazendo. Um destes é a incontornabilidade de um orçamento plurianual e de um real plano de reequipamento das forças, apoiado numa indústria nacional de defesa robusta, competitiva e exportadora. Finalmente, o Ministério da Defesa precisa ser ampliado, passando para seu controle direto o máximo das funções não operacionais das três forças, ao mesmo tempo em que coloca o conceito de operações conjuntas para o primeiro plano.
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Para entrar em contato com a Editoria do MAR & DEFESA, com o autor do artigo, ou com a mídia que o publicou originalmente, basta enviar mensagem para um dos canais abaixo.
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Poder Marítimo e Defesa Nacional
Contribuindo para o desenvolvimento de uma mentalidade política de defesa no Brasil
Editor responsável: Francisco Eduardo Neves Novellino
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