Marcelle Torres**
MAR & DEFESA | 13 DE NOVEMBRO DE 2023
Imagem disponível no artigo original. Acessada em 27/10/23.
DA EDITORIA
O Programa Nuclear da Marinha do Brasil prevê a construção de um submarino de propulsão nuclear dotado de armamento convencional (torpedos e mísseis). Diferentemente do Brasil, a Coréia do Norte equipou recentemente três submarinos de propulsão convencional (diesel-elétrica) da Classe "Romeo" - de origem soviética - com mísseis dotados de ogivas nucleares.
A principal razão para a diferença entre os dois programas reside na distinção entre as visões estratégicas marítimas do Brasil e da Coréia do Norte. A Marinha do Brasil é uma força de "águas azuis", que opera em um ambiente marítimo de grandes proporções, o qual demanda o emprego de submarinos dotados de grandes velocidades e fonte inesgotável de energia. As potenciais ameaças aos ativos marítimos nacionais são forças navais estrangeiras ou outros submarinos.
A Coréia do Norte, por sua vez, é uma marinha de "águas verdes" - conforme menciona o artigo -, mas que pretende se posicionar como uma força de dissuasão estratégica regional, com capacidade de atingir alvos localizados em terra e no mar em todo o Mar do Japão, e até mesmo no Mar das Filipinas, alcançando os territórios e águas jurisdicionais do Japão, Coréia do Sul, Taiwan e Filipinas.
ARTIGO
Ao tratar sobre poder naval, Geoffrey Till (2006) afirma que o nível de desenvolvimento dos países pode ser refletido nas capacidades de suas marinhas; enquanto um país em desenvolvimento possui uma Marinha “pré-moderna”, visando a sua sobrevivência, um Estado mais desenvolvido consegue ter uma Força moderna capaz de adaptar conceitos clássicos do emprego naval à contemporaneidade. Till ressalta que países da região da Ásia-Pacífico tendem a se ater às movimentações e modernizações de seus vizinhos, e com a Coreia do Norte não é diferente. O país prova que também está no jogo e busca a modernização de seu poder naval.
A partir da classificação de Marinhas de Todd e Lindberg (1996), é possível identificar que Pyongyang possui uma marinha de "águas verdes", com capacidade operacional em águas costeiras. A Marinha do Povo Coreano (Korean People’s Navy) divide-se em uma esquadra no Mar Amarelo e outra no Mar do Leste, composta por aproximadamente duas fragatas como combatentes de superfície; 372 combatentes costeiros e de patrulha, contemplando cinco corvetas; 72 submarinos, sendo dois de mísseis balísticos (1 Sinpo-C e 1 Sinpo-B), 20 convencionais da classe Romeo, 40 costeiros da classe Sang-O e 10 minissubmarinos; e outras embarcações.
Com a inferioridade qualitativa de suas forças convencionais — equipamentos obsoletos da era soviética, antigas aquisições chinesas e atualizações nacionais —, Pyongyang busca desenvolver capacidades assimétricas, como o sistema de lançamento de mísseis balísticos.
Enquanto o regime de Kim Jong-il (1994- 2011) se concentrava em minisubmarinos, tendo um deles se envolvido no naufrágio da corveta sul-coreana Cheonan em 2010, o de Kim Jong-un (2011-atual) enfatiza submarinos lançadores de mísseis balísticos.
Como exemplos, há o submarino Sinpo-B, da classe Gorae, que transporta um míssil, que já sinalizava a visão para o desenvolvimento de uma força estratégica, paralelamente ao programa de mísseis balísticos lançados de submarinos (SLBM, em inglês) com a produção de mísseis Pukguksong; o Sinpo-C , da classe Romeo-Mod, que acomoda três mísseis Pukguksong-3; e, em setembro de 2023, Pyongyang lançou o submarino Kim Kun Ok, equipado com 10 tubos verticais para lançamento de SLBMs. O novo submarino é designado por Kim Jongun como um dos principais futuros meios ofensivos subaquáticos do poder naval norte-coreano.
A busca por capacidades nucleares navais do país marca uma nova era de reforço e modernização da Marinha norte-coreana. Apesar de permanecer limitada e não estar à altura de marinhas modernas, Pyongyang visa readaptar seus submarinos antigos e modernizar seu poder naval em uma força de negação do uso do mar, mas também de emprego estratégico.
* Publicado originalmente com o título "A ênfase nas capacidades submarinas norte-coreanas", no Boletim Geocorrente da Escola de Guerra Naval (EGN), Ano 9, no. 192, 19 de outubro de 2023.
** Pesquisadora do Núcleo de Avaliação da Conjuntura da EGN, seção Leste Asiático.
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Senhora Marcelle,
Saudações!
A questão tecnologica é de extrema importancia tanto para o emprego estrategico como tatico mesmo se tratando e belonaves movidas á energia nuclear, como se trata de um regime extremamente fechado, não sabemo se os seus aliados russos e chineses estão dispostos a fornecer tal tecnologia a Coreia do Norte, no caso do Brasil temos o apoio tecnologico francês no que se refere ao casco mais ao reator nos estamos desenvolvendo na sua maior parte com tecnologia auctocne, poi por mais boa vontade de nossa aliada ninguem transfere tecnologias criticas, portanto o nosso desenvolvimento na area depende de altos investimentos por parte do Estado Brasilero sem interrupções, politica de Estado não de Governo, a navegação movida por…