Publicado no Blog MAR & DEFESA em 12 de maio de 2022
Foi publicado em 02/05/22 o vol. 24 de Análise Estratégica, uma publicação trimestral do Centro de Estudos Estratégicos do Exército, dedicada aos temas que impactam a preparação da Força Terrestre e a Defesa Nacional. Contém artigos preparados pelos pesquisadores do CEEEx.
A presente edição trouxe os seguintes artigos:
Reconfiguração do Tabuleiro e Realinhamento Estratégicos;
O uso da força como instrumento de política internacional;
A guerra na Ucrânia e a arquitetura de segurança global: movimento tectônico?
RESUMOS
Reconfiguração do Tabuleiro e Realinhamento Estratégicos
Desde a formulação dos arranjos westphalianos, a ordem internacional é fundamentada em um sistema de estados soberanos, considerando como seus elementos constitutivos: territorialidade delimitada e reconhecida, população permanente, governo aceito e poder soberano. O sistema atual tem raízes profundas na ordem mundial estabelecida após as Guerras Mundiais e foi remodelado com o fim da Guerra Fria. A (re)emergência de outros atores globais desafia a governança do poder hegemônico atual, que, após um período de certa estabilidade, tem suas bases afetadas pela intervenção militar russa em uma das ex-repúblicas soviéticas. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar os efeitos da Guerra na Ucrânia na reconfiguração do tabuleiro internacional e o realinhamento estratégico decorrente do reposicionamento dos Estados face ao conflito.
O uso da força como instrumento de política internacional
O presente ensaio tem por objetivo discutir o uso da força como instrumento de política internacional tendo como pano de fundo a invasão à Ucrânia, perpetrada pela Rússia em fevereiro de 2022. Parte-se do pressuposto de que, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, guerras de conquistas passaram a ser “criminalizadas”, conforme sugere o preâmbulo da Carta da Organização das Nações unidas (ONU). Assim, o texto buscará discutir os limites do uso da força e a capacidade de constrangimento das normas internacionais nas relações de poder entres Estados soberanos. Nossa hipótese é de que os eventos na Ucrânia revelam uma tendência observada, sobretudo, a partir do “retorno geopolítico” de disputa entre grandes potências na década passada, marcada por ameaças explícitas do uso da força como instrumento de poder.
O livro Poder e Interdependência, a política mundial em transição, de Robert Keohane e Joseph Nye, apresentou ao mundo a teoria da interdependência complexa e tornou-se, rapidamente, uma referência, porque grande parte de seus pressupostos acabou se confirmando na acelerada globalização a que o mundo assistiu, especialmente, a partir da década de 1990. Sob os efeitos do fenômeno da interdependência, os Estados passariam a ser reciprocamente afetados pelas implicações das transações que efetivavam, pelo fluxo de pessoas, bens e ideias. Uma das características da interdependência complexa seria seu papel inibidor do uso da força militar contra Estados com os quais relações de interdependência prevalecessem. Assim, o objetivo deste artigo é analisar como eventos recentes - a pandemia da Covid-19 e a guerra na Ucrânia- desafiam essa percepção.
A guerra na Ucrânia e a arquitetura de segurança global: um movimento tectônico? Este ensaio se propõe a jogar luzes sobre os possíveis impactos da recente invasão do território ucraniano por forças militares russas, enfocando aspectos que reúnem potencial para alterar a arquitetura de segurança global. A observação do fenômeno incide sobre as movimentações geopolíticas e geoestratégicas a ele atreladas, pressupondo-se que a combinação dessas com fatores ideacionais alimentaram a evolução da crise instalada para conflito armado. Ao considerar a interação de variáveis clássicas de poder (econômico e militar) com valores, crenças, interpretações e visões de mundo diferentes (ou conflitantes), objetivou-se destacar a existência de um sentido de complementaridade entre as mencionadas variáveis (materiais e imateriais) – ambas contributivas para a emergência/construção de percepções de ameaças aos interesses vitais de um Estado – alegando-se a ocorrência de uma falsa dicotomia entre ambas. A conclusão busca responder a pergunta-título, apontando para a possibilidade do incremento de um processo de reorganização da arquitetura global de segurança.
Guerra informacional no campo de batalha
O presente artigo, em primeiro plano, visa a lançar luz sobre a importância do tema dimensão informacional da guerra. Consideramos que esse fenômeno não é novo, pois a sociedade está exposta há décadas, com baixo grau de percepção, a essa proposta de modelagem social. A busca em dirigir o pensamento social tem sido uma importante ferramenta para a guerra, principalmente, após a II Guerra Mundial. Com base na tecnologia, a ferramenta informacional surgiu, sendo as fronteiras físicas “substituídas” pelas fronteiras virtuais. A descentralização da informação criou agentes e concorrentes à mídia, bem como gerou diversas classificações de informação. Esses antecedentes estão presentes na guerra entre a Rússia e a Ucrânia, com diferentes segmentos participativos do conflito, como demonstrado no contexto deste texto.
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN): Uma perspectiva da sua evolução e da sua conjuntura político-estratégica
O presente artigo buscou, primeiramente, estudar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) após a Guerra Fria, a partir da análise de suas principais operações e decisões de cúpula, das novas adesões e parcerias e dos seus Conceitos Estratégicos. Posteriormente, analisou a sua situação recente, sua estrutura estratégico-operacional, os principais fatos exógenos à Aliança que a impactaram nos últimos anos, os trabalhos prospectivos “OTAN 2030: Unidos por uma nova Era” e a agenda “NATO 2030”, elaborados com vistas ao seu novo Conceito Estratégico, previsto entrar em vigor neste ano. Ao fim, concluiu que a Aliança evoluiu de um tratado de defesa coletiva territorial para um instrumento de atuação de seus principais membros além do espaço euro-atlântico e que a atual invasão russa à Ucrânia tende a fortalecer os laços entre os seus integrantes, minimizando os desentendimentos internos e desenvolvendo novas capacidades militares, com consequente aumento de sua importância político-estratégica no mundo.
A história da guerra, ao longo dos séculos, mostrou que a superioridade, em termos de equipamentos e recursos humanos não garante a vitória. O pensamento estratégico militar possibilita, desde o tempo de paz, transformar os elementos da arte da guerra em ferramentas relevantes na preparação de uma Força Armada para obtenção do sucesso em um conflito. O presente ensaio tem por objetivo discutir a evolução do pensamento estratégico militar russo, tendo como background a recente invasão à Ucrânia, ocorrida em fevereiro de 2022. Herdeiras do pensamento estratégico militar soviético, as Forças Armadas Russas, a partir da sua reinserção no cenário internacional, reestruturaram-se com uma variedade de capacidades militares, servindo como respaldo necessário para que o poder político russo cumpra seus objetivos nacionais. Após o desfecho do atual conflito, considera-se como hipótese que a consolidação da superioridade informacional é fator-chave para a vitória, bem com a guerra contemporânea não se restringe aos meios militares. Nesse processo, o contínuo avanço tecnológico militar prosseguirá impactando na evolução da estratégia militar.
---
Conheça o site e o blog MAR & DEFESA, uma iniciativa que visa contribuir para o desenvolvimento de uma mentalidade política de Defesa no Brasil.
>> Acesse https://www.maredefesa.com.br e clique no botão Cadastre-se e receba atualizações; você fará parte da nossa lista de e-mail e receberá a newsletter mensal, bem como outras informações de interesse.
>> Conheça e siga as nossas redes sociais (Whatsapp, Telegram, LinkedIn e Twitter), cujos links encontram-se disponíveis no site.
Comments